Na sua opinião de pescador esportivo, existe alguma diferença entre piloteiro e guia de pesca? Você já observou que há lugares e situações onde um termo é mais empregado que o outro?
É correto afirmar que ambos desempenham importantes atividades e possuem suas responsabilidades dentro do contexto da pesca e navegação. O fato é que ao passo em que possam existir diferenças substanciais entre os dois termos, em alguns casos, eles podem inclusive se complementar.
Isso significa que não devemos entender que uma função seja superior à outra ou que uma possa excluir a outra. É muito comum um guia de pesca ser chamado de piloteiro e vice-versa. Isso porque a grande maioria das pessoas desconhecem a diferença entre um conceito e outro.
Mas o que é um piloteiro?
O termo piloteiro, ou até mesmo pirangueiro, é um termo mais antigo, ainda que utilizado até os dias de hoje, normalmente por pessoas de mais idade. Na essência, piloteiro é a pessoa responsável por conduzir a embarcação até os pontos de pesca, ou seja, como o próprio nome já diz, pilotar a embarcação.
Através de seu profundo conhecimento local, o piloteiro possui habilidades para navegar em segurança, mesmo diante de situações mais extremas.
Na grande maioria das vezes o piloteiro é um ribeirinho, nascido e criado na região de atuação e, portanto, já navegou pela área nas mais diversas condições, seja no tempo de seca, das cheias, com chuva, ventos e até tempestades.
Assim, o piloteiro é um profundo conhecedor dos canais, bancos de areias, das pedras e estruturas submersas, lagoas e igarapés. Muitas vezes o piloteiro é também um pescador artesanal, conhecendo, portanto, os locais onde os peixes se encontram em determinada região.
A pesca vem evoluindo constantemente e, com isso, novas modalidades e equipamentos são lançados no mercado, ano após ano. Os turistas, fascinados pela pesca, tendem a acompanhar as mais diversas inovações e muitas vezes os piloteiros não conseguem acompanhar o ritmo dessa evolução.
Seja pelo fato de não precisarem, pois, a grande maioria pratica a atividade de pesca mais voltada para o sustento familiar, ou então por não terem acesso a essas inovações do mercado, muitos piloteiros acabam ficando desatualizados diante do desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos de pesca.
Isso faz com que muitas vezes, o piloteiro fique limitado a apenas pilotar a embarcação, conduzindo turistas até o local em que se encontram os peixes, sem condições de transmitir quaisquer outras instruções relacionadas aos equipamentos e suas técnicas, uma vez que possam não saber manusear corretamente os equipamentos que os turistas possuem.
Devido a essa carência de conhecimento no manuseio adequado de apetrechos, os piloteiros muitas vezes passam a receber ordens dos turistas sobre o que devem fazer, como por exemplo, onde devem parar a embarcação, como devem posicioná-la, a distância que deverão deixar o barco das estruturas e da margem, entre outras coisas.
O conceito de Guia de Pesca atual
Já o conceito de guia de pesca profissional está inserido em um contexto mais atual, com tendência a acompanhar o mercado da pesca e suas evoluções.
Os guias de pesca são profissionais que se dedicam não somente a conduzir a embarcação, como faz um piloteiro no sentido de navegação, mas são capazes também de levar algum novo ensinamento ao cliente, repassando alguma técnica de pesca e instruindo o que deve ser feito para capturar determinada espécie em determinado ambiente.
O guia de pesca deve ser um profissional proativo, que está em constante observação a tudo que acontece ao seu redor e principalmente dentro da embarcação, percebendo quais as reais necessidades de seu cliente para poder trabalhar sempre em prol de sua satisfação.
Diferentemente dos piloteiros, nem sempre um guia de pesca é um ribeirinho ou fora nascido no mesmo local em que atua como profissional. Mas isso não o impede de dedicar parte do seu tempo para adquirir esse conhecimento com algum conhecedor local e assumir então o papel de condutor de turismo de pesca naquela localidade.
Podemos dizer também que o guia de pesca é o capitão do barco, ou seja, é ele quem está no comando e deve dizer o que pode ou não ser feito na embarcação durante a pescaria e não meramente se submeter a receber ordens dos clientes a todo o tempo durante a pescaria.
Portanto, um guia de pesca possui ainda funções importantes como traçar todo um planejamento de rota para conduzir seus clientes em segurança até os melhores pontos pesqueiros, procurar manter seus clientes sempre satisfeitos, transmitindo conhecimentos e instruções técnicas aplicadas à pesca e manuseio dos equipamentos.
A demanda por guias de pesca mais capacitados
Com a globalização do mercado e as inovações tecnológicas cada vez mais sofisticadas, o número de clientes mais exigentes é crescente, por isso a demanda por guias de pesca mais qualificados vem se tornando cada vez maior, havendo também a necessidade das pousadas de pesca esportiva estarem cada vez mais atualizadas e bem preparadas para atender aos mais diversos tipos de públicos.
Somado a isso, há uma grande crescente no universo da pesca que é o surgimento das pousadas de alto padrão, também chamados de “Lodges de Pesca”. Estas, pela promessa de entregar um serviço completo e de mais alta qualidade, possuem necessidade ainda maior em desenvolver e capacitar seus guias de pesca constantemente.
O piloteiro e o guia de pesca se complementam
Como já mencionado anteriormente, as funções de um piloteiro e de um guia de pesca podem se complementar.
De acordo com as necessidades, existem Pousadas de Pesca que vêm unindo ambos, na qual piloteiros e guias de pesca passam a trabalhar juntos na mesma embarcação.
Um exemplo disso são as operações da Untamed Angling no Brasil, onde guias de pesca internacionais são colocados para trabalharem juntos no mesmo barco com piloteiros (ribeirinhos locais ou indígenas da região), atendendo clientes das mais diversas nacionalidades estrangeiras.
Trata-se de uma operação de pesca de alto padrão especializada em pesca com mosca. Portanto, é indispensável que a bordo da embarcação haja um guia com nível de fluência em outras línguas para se comunicar com os turistas estrangeiros, além de ser conhecedor da pesca com mosca (fly fishing), que é a modalidade praticada pelos clientes.
Uma vez que esses guias de pesca especializados são trazidos de diversas regiões e até de outros países para trabalhar nessas operações, torna-se indispensável que um piloteiro possa conduzir a embarcação com segurança enquanto o guia de pesca possa ter toda a atenção voltada a atender os clientes com a qualidade que merecem.
O mais comum quando há essa integração, é que as operações tenham um guia de pesca especializado em determinada modalidade e um piloteiro local, somado a dois clientes a bordo na mesma embarcação.
Em alguns casos, dada a complexidade do local, como é o caso do Kendjam Lodge, a operação de pesca pode ter até 3 pessoas a bordo fazendo essa integração, onde um segundo piloteiro é colocado na proa da embarcação exercendo a função de ponteiro, auxiliando na remada e guiando a embarcação no rumo mais seguro através de sua visão frontal, ao passo em que um guia de pesca profissional fica no meio da embarcação atendendo aos clientes e o outro piloteiro fica na parte da popa, pilotando o motor.